domingo, 13 de junho de 2010

Sobre coceira




Sabe, tem coisas que não deveriam existir!

Por exemplo poças de água na frente de ponto de ônibus, porque tem sempre um filho da put@ que passa e tem prazer em molhar a gelera do ponto; pelinha soltando perto da unha, porque sempre em um momento de desatenção você vai e puxa a pelinha com o dente e abre um talho na pele, e arde; boca ressecada, porque alguém vai chegar, vai falar alguma besteira e você, que adora escutar abobrinha, vai soltar uma baita gargalhada arreganhando a sua boca toda e vai rachar o lábio, e vai doer; calcinha pequena, porque ela vai entrar no meio da bunda e vai apertar e você vai ficar louca (ou louco, afinal as coisas andam diferentes hoje em dia) querendo puxá-la pra fora e não vai conseguir devido a sua calça que também é pequena e está contraindo a sua bunda com uma tensão de uns 40 MPa (pra quem não é engenheiro entenda apenas que aperta muito, como as calças das mulheres fruta).

Mas a coisa que mais me dá desespero é a meia calça de lã.

Imagino que quando queriam torturar alguma pessoa faziam ela vestir uma meia calça de lã e faziam a criatura sentar numa cadeira de madeira e ficar lá por no mínimo 4 horas.

Ah meu amigo, nessa situação qualquer um assume qualquer coisa.

Tá, eu tenho trauma!

Quando eu era pequena minha mãe quase me matava sufocada, porque ela sempre foi muito friorenta então ela projetava o frio dela em mim. Até hoje ela tenta fazer isso mas hoje eu consigo me defender (agora me imagine com uma cadeira em uma mão e um chicote em outra - como os domadores de leão - encurralada em um cantinho do quarto enquanto ela vem em minha direção, babando, com os dentes pontiagudos pra fora da boca, com uma meia calça de lã em uma mão e uma toquinha também de lã na outra mão).

Dai que ela me fazia colocar aquela meia calça grossa por baixo do meu uniforme adidas e na cabeça uma toquinha que envolvia toda a minha cabeça e o pescoço, so deixando o rosto pra fora.

Então ia eu, com aquela cara de quem está indo pra forca, para a escola, passar quatro horas sentada naquela cadeirinha de madeira que iria comprimir minha pele da bunda contra a malvada meia de lã.

A coceira começava no pescoço, porque a toquinha ficava ali ralando na pele e irritando, e eu, que sou branca feito um papel sulfite, começava a ficar com o pescoço todo rosa de tanto coçar.

Eu sentava naquela cadeirinha na esperança que aquele dia seria diferente do dia anterior em que eu fui torturada ali pela mesma meia calça de lã malvada.

No começo ficava tudo tranquilo, eu não me mexia muito. Passavam uns 20 minutos, a primeira pinicada! Eu dava uma ajeitadinha na cadeira e passava mais uns 10 minutos. A partir dai as pinicadas já não vinham sozinhas, eram três ou quatro pinicadas que começavam a aparecer na poupa da bunda. Dez minutos depois parecia que haviam soltado um formigueiro inteiro dentro da minha calça. Pinicava tudo. Perna, bunda, pescoço, cabeça. Nesse momento a toquinha e a meia tomavam conta do meu corpo todo e eu ficava mudando de posição desesperadamente na cadeirinha de madeira para ir aliviando as pinicadas.

Sentava só com a banda direita da bunda e puxava a meia que tava grudada na minha pele na banda esquerda, dai dava aquele alivio, mas logo em seguida a banda direita é que era atacada pelas formigas assassinas da meia de lã.

E assim seguia a minha manhã até que as 11h batia o sinal da escola liberando as criancinhas. Dai ia eu feliz caminhando até a perua que me levava pra casa e então podia sentar no banco acolchoado e sentir que as ferozes formigas da meia adormeciam.

E assim acontecia, dia após dia, de maio a agosto, até chegar a primavera e minha mãe parar de me embrulhar em pacotes de formiga disfarçados de roupa de frio.

E hoje, não contente em ter essas lembranças de infância, acordei e tive a péssima idéia de colocar uma meia calça de lã por baixo da minha calça social (é, porque a gente evolui né, de adidas para a calça social, então as meias de lã podem ter evoluido também, e ao invés de formigas grudadas quem sabe essas meias de hoje em dia venham com mini carneirinhos peludinhos e fofinhos...).

Porque aqui em sp é frio. E é frio mesmo! Não é aquele FRIO de 22 graus que o meu Preto fala que faz lá em Deus me Livre (22º Fahrenheit? Não, não! é Celsius mesmo! E se você não sabe o que é um grau Fahrenheit vá procurar em algum livro de física!)

Nesses momentos eu juro que tenho vontade de apertar o pescoço dele enquanto ele veste uma camisa leve mas de manga longa pra suportar essa geada a 22ºC que faz lá e eu aqui tendo que sair de cachecol debaixo de 10ºC.

Bom, voltando, eu olhei para aquela meia e não sei porque achei que hoje seria diferente, que eu, agora crescida, ia vesti-la e não sentiria o desespero que sentia quando era pequena.

Agora imaginem uma pessoa arrependida!

As formigas continuavam ali, depois de mais de 20 anos, com a mesma ferocidade de antes. Passei o dia esfregando a bunda na cadeira para aliviar a coceira e rezando para dar seis da tarde pra eu poder ir correndo pra casa pra jogar aquele equipamento de tortura no lixo!

Pareceu até ter tocado o sinal que eu escutava na escola, me libertando da agonia da morte!

Aprenda! As coisas não mudam! Ainda mais quando é pra ferrar com você!

2 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkk ao cubo.
    Estou rindo na maior altura as tantas da madrugada.
    Menina, parece que vc sou eu e a sua mãe a minha. Passei igualzinho.
    Você foi valente, encarou a danada depois de tantos anos..Eu não encaro.
    Eu amo o frio, sinto saudades do friozinho de Sampa, hoje moro no Rio e quando falo com minha mãe ela sempre pergunta: Está com o casaco? E eu:- Mãe, aqui eu não tenho roupa de frio esqueceu que todas as minhas roupas de frio estão em São Paulo?! Aqui no Rio eu não sinto frio.rsrsrs 22º Aqui não é os 22º de Sampa hahahaha.

    Adorei.

    Beijcoas

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  2. dezgraus e tá frio?
    Vem pro pra minha cidade...

    3 graus...
    e descendo.
    e sim estamos no Brasil.



    Tbém tive esses pronlemas,
    Mas eu chegava na escola, corria pro banheiro e tirava a meia.
    no final da aula colocava de novo.
    rs

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Ah, fala vai...