terça-feira, 31 de maio de 2016

SOBRE AMAMENTAR

Sumi! Voltei rapidinho e quero aproveitar o tempo antes que eu tenha que sumir de novo, então... vamos lá!

Dai que Manu nasceu, dai que Manu precisava comer.

Eu lá, deitada, rasgada, sem sentir minhas pernas, chega a enfermeira com a Manu:
- Mãezinha, vai amamentar agora?

Por um breve momento eu fiquei pensando em como eu iria fazer aquilo. Barriga inchada e dolorida, não ia dar pra apoiar a Manu nela. Pernas sem movimento e uma sonda enfiada na uretra, não ia dar pra sentar. Olhei pra enfermeira, olhei pra Manu, olhei pro marido, olhei prum lado, olhei pro outro... Talvez eu tenha feito uma cara de desespero porque a enfermeira falou:
- Se quiser pode amamentar depois. Ela tem uma reserva de 12 horas, mas até a meia noite você precisa amamentar!

Certo! Certo! Até a meia noite eu devo ter minhas pernas de volta. Pelo menos isso já devia ajudar no processo. Acho que de todo o processo de parir o que mais me incomodou foi ficar sem sentir minhas pernas. Essa sensação de não ter controle sobre uma parte do seu corpo é horrível. A segunda pior coisa foi a sonda. De resto, nada que movimentos lentos e cuidadosos não resolvessem.

As horas foram passando, a anestesia foi sumindo, e minha vida começou a ficar um pouco menos pior.

Lá pras sete da noite chegou outra enfermeira no quarto:
- Vamos tomar banho?

Na hora eu pensei "Pra quê? Eu nem suei! Deixa assim mesmo.. eu não quero levantar da cama com esse SACO DE XIXI PENDURADO EM MIM!"

Um segundo depois chega outra enfermeira:
- Mãezinha, vamos amamentar?

Meu Deus! Socorro! Vamos por partes... já que eu vou ter que sentar com esse cano enfiado na minha uretra de qualquer jeito, que pelo menos eu esteja limpa... Vou tomar banho primeiro e depois eu amamento.

Banho tomado (falo dele outra hora), fui até o sofazinho, sentei sem fazer força (tente fazer isso em casa) e peguei a Manu para o tão esperado momento! Vamos ver como é esse negócio de amamentar que todo mundo fala. Deve ser tranquilo porque as fotos que a gente vê por ai são todas tão lindas, o nenê tranquilinho olhando pra mãe, a mãe sorrindo olhando pro nenê... agora é minha vez.

Manu no colo, peito pra fora, enfermeira apertando (Uiiii, que dor!) meu peito pra ver se tava saindo alguma coisa... Tchuf! Manu no peito. Deu umas mastigadinhas e depois dormiu. UIA! Que fácil! =)
O cartaz estava certo! Pena que ela não olhou pra mim que nem o nenê do cartaz, mas tudo bem, acho que depois ela olha.

Enfermeira mandou amamentar de três em três horas no máximo, então todo mundo alerta com o horário. Mas a Manu reclamava antes.

Pari na segunda, sai do hospital na quarta. Manu mamando e esfregando a gengivinha dela no bico do meu peito de uma em uma hora. Bico do peito começou a achar ruim essa fricção toda. Começou a arder um pouco... começou a arder mais... começou a arder muito!

Sexta feira de manhã, acordo com meu peito parecendo uma pedra! Todo inchado, duro, dolorido e pingando um líquido amarelo! Mandei zap pra vizinha enfermeira "To com os peitos inchados e duros! O que é isso?"... Vizinha responde "Seu leite desceu e deve ter empedrado! Chego já ai!".

Aquela foi a sexta feira mais dolorida de toda a minha vida! Vizinha enfermeira foi fazer massagem nas mamas pra desempedrar o leite. A dor era muita.. mas muita.. mas muita mesmo!!! Ela apertava de lá, apertava de cá, tentava tirar o leite (que era grosso e gordurento), apertava mais.. eu ia na lua e voltava.. ali acho que tive uma experiência extra corpórea, porque minha alma deixou meu corpo lá e foi embora de tanta dor que eu sentia.

Massagem feita, vizinha foi embora e eu cai no choro. Deu vontade de não ter mais leite, de não amementar nunca mais, de sair correndo, de me enfiar num buraco sozinha e ficar ali pra sempre.

Morri de medo de ter que fazer aquela massagem do inferno outra vez, então resolvi eu mesma ficar fazendo massagem assim que eu percebesse que o leite estava enchendo o peito.

Manu mamava e eu morria de dor no bico do peito. O peito enchia e eu morria de dor no peito todo. Uma amiga falou que um dia tudo isso seria extremamente prazeroso. Juro que não via como isso ia acontecer.

Falaram que sol era bom pra cicatrizar o bico do peito, que já estava prestes a rachar e sangrar (porque o peito de muita gente sangra por causa da amamentação! SANGRA!), então, todos os dias às seis da manhã, ficávamos eu e a Manu na varanda de casa, tomando sol. Ela só de fralda (por causa da icterícia), eu de camisola com os peitos pra fora. Aliás, ardia tanto que eu passava praticamente o dia todo com os peitos pra fora. Quando não fazendo a massagem, deixando minha pele longe de qualquer coisa que pudesse encostar nela. Assim foi o primeiro mês praticamente todo.

Comprei uma pomada pra passar no bico do peito e uma capinha de silicone pra proteger do atrito. Acho que a pele foi "engrossando" e a dor foi diminuindo, até que eu não precisei mais nem de um, nem de outro. E dar mamá pra Manu começou a ser legal, como minha amiga tinha dito.

Agora começou outro problema... meu leite não era fabricado em quantidade suficiente pra encher a pancinha da minha filha. Porque a bichinha deve ter puxado a mãe, de tanta fome que tinha.

Dai começou a pressão (de novo), todo mundo falando que tinha que dar só leite do peito, que não era pra dar leite em pó porque o leite do peito é que faz bem... Tá certo! Concordo! Fora que é muito mais fácil acordar de madrugada e botar o nenê no peito do que ter que levantar da cama e esquentar água, diluir o leite, botar na mamadeira... Só que a pessoa faz O QUE SE O PEITO NÃO DÁ VENCIMENTO???

Insite? Sim, claro! Insiste! Mas e se mesmo assim não dá? Faz o que? Se joga da janela? Porque era isso que eu tinha vontade de fazer!

Gente, pelo amor de Deus, ter um filho já é pressão demais na vida da pessoa, muitas mudanças, muito cansaço, e muita cobrança interna! Não cobrem mais ainda! A mãe vai fazer o que dá pra fazer! Mas se não dá, se o corpo não responde do jeito que seria o ideal NÃO FALE QUE O LEITE ARTIFICIAL FAZ MAL E NÃO VIREM OS OLHOS QUANDO ALGUMA MÃE DISSER QUE ESTÁ DANDO O LEITE ARTIFICIAL PRO SEU FILHO! Se ela tá fazendo isso, ACREDITE, É PORQUE NÃO TEM JEITO!

Enfim, amamentei minha filha até os cinco meses e meio, complementando sempre com leite artificial porque meu corpo não produzia o suficiente e ela chorava de fome. Então, entre matar a menina de fome e dar o Nan, eu dava o Nan!!!

Na semana que comecei a dar sopa e frutas ela começou a não querer mais o meu peito. Talvez por ser muito esforço por pouco leite, talvez porque ela tenha preferido a comida nova... seja lá o que for, ela preferiu deixar pra lá. E eu não surtei, não achei ruim, não chorei. Minha filha está crescendo, está saudável e eu estou aprendendo a deixar de lado a opinião não solicitada das pessoas.

Já voltei a trabalhar, meu peito não vaza, não incha e não dói mais. Fiz o que pude pra dar meu leite pra Manu, ela fez o que pôde pra mamar no meu peito. Nos acertamos e seguimos em frente.

E que venha a próxima fase!