quarta-feira, 9 de março de 2016

SOBRE O PARTO DA MANU

Daí que chegou o dia. Segunda feira, dia 23/11.

Acordar entre 7:30 e 8:00, ver se tudo está em ordem, pegar as malas (que já estavam prontas há dois meses), tomar coragem e sair às 8:40, em jejum. O médico pediu para estar na maternidade às 9:00 para fazer o parto às 11:00.

Tá tudo ai, eu juro!

Cheguei na maternidade com meu fã clube (marido, mãe, sogra, cunhada e vizinha - é, a vizinha achou que seria de bom tom acompanhar a família nesses momentos importantes, porque né, é isso que os amigos fazem), fui fazer a internação. Uma hora esperando pra ser atendida. Depois disso, me mandaram para uma salinha. Bora fazer a preparação e subir para o centro cirúrgico.

- Mãezinha, tira toda a roupa e veste esse roupão. Depois senta aqui que eu vou tirar seu sangue pra ver o tipo sanguíneo.

Oi? Tirar sangue a essas alturas? Isso não tava combinado!

- Moça, eu sei o meu tipo sanguíneo, é O+! Num adianta eu falar não?
- Não, precisa fazer o exame.

Fazer o que né.. bora lá. Pra você que não me conhece, eu tenho um certo problema em tirar sangue (explico aqui), mas tinha que ser... e o que seria tirar um sanguinho pra quem ia ter a barriga partida ao meio?

- Moça, posso deitar na maca? É que eu, às vezes, desmaio quando vou tirar sangue...
- Desmaia é?.... (pausa pra ela pensar "meu, como é que essa criatura vai parir? será que ela acha que é a cegonha que traz o nenê lá no centro cirúrgico?)... pode deitar.

Deitadinha, senti a picada da agulha. Por enquanto tudo tranquilo, em uns 15 segundos ela deve tirar a agulha... 15, 16, 17, 18.....35, 36, 37... e nada. Quando a pessoa mexe muito e fica muito quieta enquanto tira seu sangue é sinal de que deu alguma coisa errada. Já passei por isso algumas vezes, geralmente erram a minha veia e ficam la fuçando pra ver se acham. Mas dessa vez foi diferente:

- Vish, num tá dando...
- Minha veia sumiu?
- É essa seringa....

Silêncio enquanto ela continuava a futucar no meu braço.

- E ai? Deu certo?
- Não... essa seringa... tá com defeito... não sei não... hummm... num deu... acho que.... hummm

Cansada de imaginar que ela estava quase amputando meu braço pra achar a veia resolvi quebrar minha regra básica para sobreviver a um exame de sangue: não olhar nunca!

Quando fui virando meus olhinhos para o lado da enfermeira enxerguei a mão dela coberta de sangue (e sem luva!! mulher louca). Achei por bem não continuar a mexer os olhos para não ter um parto normal ali mesmo.

Tinha muito mais lá, eu juro!


- É, eles lá no centro cirúrgico tiram o sangue... a agulha não está encaixando... olha aqui!

Eu não olhei!

Levantei, respirei fundo e continuei sem perder meus sentidos. Sentei na cadeira de rodas e fui sendo empurrada até a porta onde meu fã clube iria me encontrar. Subimos para o primeiro andar, fui para o centro cirúrgico e o fã clube para o quarto, esperar por mim.

Primeiro fiquei em uma sala para fazerem as pulseirinhas que eu e a Manu usaríamos para não nos perdermos uma da outra. Lá havia três camas. Em um delas uma mulher cheia de mangueirinhas daquelas de soro gemia. Ela estava esperando pra fazer parto normal. Naquela hora eu percebi que foi Deus que fez o meu médico marcar a cesárea. Na boa, eu não ia aguentar.

Tudo pronto, tudo certo, bora lá pra sala de operação. Me mandaram pra lá andando mesmo, nem pra vir uma cadeira de rodas, ou uma maca... nada! Vai ali, andando mesmo. Chegando lá vi meu obstetra todo vestidinho de verde, junto com mais três pessoas (uma enfermeira, uma médica auxiliar e o anestesista surfista). Ele me perguntou se eu estava calma e eu respondi que sim, lógico! Mesmo depois do surto que eu tive na sala dele quando ele me falou da cesárea quatro dias antes.

Deitei na caminha (dura que só) e já me separaram do meu corpo com aquele pano verde que colocam abaixo do pescoço pra gente não poder ver nada. Vamos colocar o soro... PUTAQUEOPARIU QUE DOR! Senti arder a MINHA ALMA enquanto uma mulher enfiava um arame farpado nas costas da minha mão e falava para outra "vai mais um pouco". A outra espremia meu braço com toda a força, como se estivesse tirando o restinho do suco que fica dentro do canudo, "agora já deu". Aquilo devia ser a coleta do sangue, que me fez sentir saudade da enfermeira ensanguentada lá do andar de baixo.

Ela era muito mais assustadora, eu juro!

Mandaram eu virar de lado e abraçar minhas pernas. Oi? Como é que eu vou abraçar minhas pernas com uma bola de pilates dentro da minha barriga? Parece impossível para você? Mas não se preocupe, a moça que quase arranca seu braço vai te ajudar. Ela puxa suas pernas com um braço e empurra sua cabeça, quase quebrando seu pescoço, com o outro braço. Dai vem o anestesita e tchum! Fura sua coluna. Mas esse furo realmente nem dói, você só sente um apertão, como se ele estivesse pressionando sua coluna com o dedo. O que dói mesmo é o arame farpado do soro.

É a primeira imagem. Foi assim que me dobraram no meio pra tomar a anestesia, mas foi mais forte, eu juro!
"Vira ela rápido! Rápido!" disse o anestesista surfista, enquanto um gelado escorria pela minha perna esquerda (eu estava deitada em cima do meu lado esquerdo) que depois escorreu pra minha perna direita. Mas como eu ainda sentia meu dedão direito achei por bem avisar, porque né, eu não queria sentir um facão atravessando meu bucho. Mas depois de alguns segundos, lá se iam minhas duas pernas para a terra do além.

Senti uma leve vontade de fazer xixi, que eu descobri depois que era uma sonda sendo enfiada minha uretra a dentro. Eike delícia!

E dai começou... Começou uma conversaiada sobre os amigos em comum que todos ali tinham, menos eu, enquanto me partiam ao meio. Parecia mais que estavam em volta de uma mesa de bar, tomando cerveja e jogando conversa fora! E simplesmente me esqueceram. Alguém se preocupou em conversar comigo pra eu não entrar em desespero? Não! Alguém se preocupou em saber se eu tava sentindo alguma coisa? Não! Alguém se preocupou em ir me contando o que estavam fazendo pra eu não me sentir um boi sendo abatido? Não! GENTE, PELAMORDEDEUZZZ! PRESTENÇÃO AI NO QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO!!!! Fiquei lá rezando pra ninguém cortar um pedaço da minha bexiga ou deixar uma tesoura dentro do meu útero... vai saber.

De repente o obstetra lembra que eu tô lá e fala "Cadê seu marido? Ele não vai assistir não? Já vai nascer!". Deu vontade de responder "Perai que eu vou ali chamar... xô levantar aqui...". Como é que EU ia saber onde ele tava se mandaram ele esperar na sala do lado e me levaram pra outro canto? Depois de uns cinco segundos o marido apareceu e começaram a conversar com ele, já me esquecendo de novo. Diz o marido que quando ele entrou na sala eu estava gritando "Cadê meu marido??? Vem ver o que você fez comigooo!!!!", mas a minha versão do fato é um pouco menos intensa, apesar de eu realmente ter mandado ele ver o que ele havia feito comigo.

Senti duas puxadas do meu lado direito e depois o anestesista surfista enfiou a mão embaixo do pano que me separava do meu corpo e deu dois empurrões na parte de cima da minha barriga que eu tenho CER-TE-ZA que deslocou meu diafragma. Então ouvi um choro e vi um frangão, todinho esbranquiçado e inchado, sendo trazido, pendurado pelas pernas, na minha direção. Era minha filha, Manuela! =)

Ela tava muito mais esbranquiçada, eu juro!
Depois da seção de fotos o anestesista surfista falou "agora você vai dormir um pouquinho" e pluft! Acordei numa sala fria, tremendo, sem saber quanto tempo havia passado (três horas). Quando percebeu que eu estava ali tendo trimiliques, a enfermeira veio conversar comigo. Falou que o frio era efeito da anestesia, que logo passaria.

Percebi que ainda não sentia minhas pernas. Ai meu Deus, cadê minhas pernas? Elas não deveriam estar aqui? Será que ainda estão vagando a esmo pelo hospital? E se elas não quiserem mais voltar? Ai minha bunda, tá doendo de ficar nessa posição e eu não consigo me mexer! Pequeno desespero começou a tomar conta da parte não anestesiada do meu corpo.

Me levaram pro meu quarto. Fã clube estava lá, firme e forte. Três e pouco da tarde. Manu nasceu às 12:23. A enfermeira mandou todo mundo sair do quarto menos o marido, que ia precisar ajudá-la a me colocar na cama. Transferência estranha quando não se sente metade do corpo. Vi um lençol cheio de sangue. Meu sangue. Vi a sonda cheia de xixi. Meu xixi. Vi minha barriga com um monte de esparadrapos grudados na região do corte e pensei "puts, pra desgrudar isso dai vai doer um monte". A enfermeira foi embora e eu fiquei lá, deitada, cortada e sem poder falar (porque você não pode falar nas primeiras 24 horas depois da cesárea pra não ficar cheia de gases e com a barriga de uma grávida de seis meses).

A Manu chegou no quarto uma hora depois de mim. Minhas pernas chegaram no quarto três horas depois de mim. E com todo mundo junto, adormeci.

(... e a história continua no próximo post)

3 comentários:

  1. Ahhhh.... que vontade de ter filhos!! =D

    GATOS!!!!!

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  2. Parabéns pela menina ! Fiquei dois meses sem olhar aqui e que susto kkkkk, muitas novidades . Muitos beijinhos de Angola

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Ah, fala vai...