terça-feira, 1 de maio de 2012

Sob o sol da Chapada

Pois é, eu sobrevivi. Mas quase que eu morro! Cheguei a ver a luz no fim do túnel... aliás, eu vi o túnel, essa foi a minha salvação, porque lá tinha sombra.
Dai que eu e o noivo resolvemos ir pra Chapada Diamantina fazer trilhas para ver cachoeiras. Porque afinal, agora eu sou uma pessoa Adventure (depois de voar de asa delta da pedra da Gávea, mas isso eu conto outro dia).
Véspera de feriado, busão semi-leito lotado, 23h.
Começou o deslocamento de Deus me Livre para onde Judas perdeu as botas. Calorzão do nordeste, eu de calça fina e regata. Ar condicionado do ônibus a 28ºC abaixo de zero. Frio. Congelando. E assim foi a noite toda. Eu me batendo de frio e o rezando pra que aquelas 9 horas passarem um pouco mais rápido, tipo em umas 3 horas.
Escurece, clareia e enfim chegamos. Eu, já com aquelas mini-estalactites de gelo penduradas na ponta do nariz, fiquei incontavelmente feliz quando pude descer do ônibus e sentir os raios de sol no meu couro congelado.
Pousada, troca de roupa, trilha. Sem café da manhã nem nada. Ainda bem que eu tinha feito um pão recheado e tinha levado.
Sol. Muito sol. Fogo que caia do céu na minha cabeça. Quarenta minutos de trilha no meio de um mato que não servia pra fazer sombra. O povo no meio do caminho fazendo a mesma pergunta um pro outro: "Será que vai valer a pena essa caminhada toda?". Mas como era a primeira trilha, a gente tinha acabado de chegar, estava todo mundo otimista. Cachoeira do mosquito. Deve ser linda. O Puma, nosso suposto guia(que mais tarde descobriríamos que era guia mas que não era o nosso, porque estava de férias...e então resolveu descansar no lugar onde ele sempre trabalha... vai entender, né...), dizia que era maravilhosa.
Sobe barranco, desce barranco. Cuidado! Tem pedra solta no caminho. Agarra nos troncos das árvores, vai ser arrastando. Pedriscos entre a meia o tênis. Sede. Água quente na mochila. Era o que tínhamos.
De repente, um barulho de água e uns gritos. Os primeiros da fila chegaram na cachoeira! Graças ao bom Deus, porque eu achei que num ia conseguir chegar.
Cachoeira do mosquito. Tá, mas..., cadê a água? Parede de pedra, alta, uma quedinha de água sem vergonha que não fazia em uma poça razoável embaixo pra pessoa poder submergir o corpo suado e cansado da caminhada.
Podia muito bem ter visto a imagem por foto mesmo.
Nem precisava ter andado tanto debaixo do sol de 557º pra admirar a beleza da quedinha de água.
Nuca molhada, pés lavados, segue a caminhada de volta.
Sol subindo a temperatura pra 792º, porque já era mais de tarde, sol dos trópicos. O caminho parece que ficou maior. Quem foi que esticou isso aqui?
A cara já tava parecendo um tomate. Trinta e duas camadas de protetor solar. Água que já não tava mais quente, mas sim entrando em estado gasoso. Noivo incentivando "Go! Go! Go!". Ir pra onde, meu amigo? Daqui, acho que só consigo mesmo é ir para o além!
Parada debaixo de uma árvore ralinha. O ar que não chegava até o pulmão. O suor que já estava ficando grosso porque no corpo não tinha mais água. Os oásis que começavam a aparecer nas minhas alucinações, feito desenho animado.
O bom era saber que eu não morreria ali, jogada, sozinha, porque haviam outros seres brancos e sedentários que estavam a beira da morte feito eu. E começaram os comentários: "Amanhã eu não vou não..." e conforme a caminhada prosseguia as frases começavam a ficar mais agressivas: "Mas num vou mesmo amanhã!"... "Que? Amanhã? Nem a pau!!"... "Amanhã? Quanto tempo???? Ce tá louco!!! Num vou não"......  "AMANHÃÃÃ???? Não mesmo!!!! Quero ver quem me arrasta!!!!"
Enfim, depois de passar pelo limbo, consegui chegar ao céu. O final da trilha era um restaurante, onde estava esperando por nós, sobreviventes, um almoço do tipo feito em casa, com macarrão, arroz, feijão, salada de legumes, salada de folhas, frango ao molho, bife acebolado, suco de manga e goiaba e um sofa para sentarmos. Juro que achei que era uma das minhas alucinações, mas graças à Deus não era.
Sentei, comi, olhei pro noivo e falei: "Amanhã não vai ter condições. Eu vou morrer lá".
O bom do noivo é que ele leva tudo na esportiva e estava mesmo querendo ir no dia seguinte, mesmo que isso custasse minha vida. Afinal, a gente estava ali era pra ser Adventure né.
Voltamos pra pousada. Agradeci muito à Deus pelo resto de fôlego que ainda me restava, deitei na rede e de lá só me levantei pra ir pra cama, dormir.
E então, eis que chega o amanhã. E sabe o que era pra fazer no amanhã?
Trilha de TRÊS HORAS para a ver a cachoeira do sossego. Sei... Sossego... Ce vai? Porque EU NUM VOU NEM FODENDO!!! E pra quem for, que tenha uma boa morte! Obrigado!

Cachoeira do Mosquito - Chapada Diamantina/BA
E agora que você já viu a foto que eu tirei, não precisa mais ir até lá.


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